Mulheres na Política: Desafios, Conquistas e a Busca por Espaços

Mulheres na Política: Desafios, Conquistas e a Busca por Espaços

16/11/2023 0 Por Redação

A busca por uma maior representatividade feminina na política brasileira é tema central das discussões no cenário político de Sergipe e do Brasil como um todo. De acordo com dados fornecidos pela Agência Câmara, no último pleito municipal realizado em 2020, as vereadoras eleitas (9 mil) representaram 16% do total, frente a 84% de homens eleitos (47,3 mil) para as câmaras municipais. Nesse mesmo pleito, 658 cidades brasileiras elegeram mulheres para administrarem as gestões públicas, enquanto o número de homens eleitos foi um total de 4.910.

Apesar do Brasil ser composto por 51,5% de mulheres e 48,5% de homens, esses números não são refletidos quando o assunto é a ocupação de espaços de poder. A constatação por meio dos números revela a disparidade persistente na ocupação de cargos políticos por mulheres, reforçando a pequena representatividade feminina nas prefeituras e câmaras municipais.

Para a comunicóloga e pesquisadora de gênero e política, Eloísa Galdino, mesmo com os avanços desde a redemocratização, o desafio da representatividade feminina continua relevante e urgente. “O debate sobre a ampliação da presença das mulheres na política está na ordem do dia da agenda por mudanças, afinal, não obstante sermos maioria na sociedade, seguimos com o Brasil sendo um país com baixíssima participação feminina nos espaços de poder. Sendo assim, esse protagonismo é um  desafio de grande significado. É certo que avançamos com esse tema desde a redemocratização do país, mas em passos lentos, a despeito, inclusive, de legislação própria para garantir essa participação. Além disso, é preciso considerar que, nas últimas décadas, aumentou a presença feminina no mercado de trabalho, em espaços executivos de maneira geral, em novas profissões e no  mundo acadêmico, mas seguimos precisando de uma maior presença delas nos espaços onde as decisões são tomadas”, analisa.

Aracaju nunca elegeu uma mulher para comandar a gestão municipal. Para Eloísa, o fato da capital sergipana nunca ter sido governada por uma mulher tem relação com esse cenário que mostra as dificuldades de participação das mulheres no ambiente da política, mas destaca que as eleições de 2022 passaram uma mensagem importante sobre o desejo por mudança da fotografia na política sergipana.

“É importante atentarmos que somente no processo eleitoral de 2022 tivemos a eleição das primeiras duas deputadas federais representando Sergipe, e isso ao longo da história. É muito tempo. E estamos falando do Nordeste, onde essa participação feminina é ainda mais complicada. Agora sim, eu tenho defendido que Aracaju acena para a possibilidade de uma prefeita mulher há alguns pleitos, e é extremamente alvissareiro um cenário no qual vemos vários nomes femininos despontarem com a possibilidade de candidaturas. E considero que o mais importante nesse momento é reafirmarmos a importância dessas alternativas se firmarem, porque sabemos que as dificuldades são muitas.

Nas movimentações políticas para ocupação da Prefeitura de Aracaju em 2025, as mulheres têm dominado o cenário do favoritismo político. Nomes como Emília Correia, Eliane Aquino, Linda Brasil, Katarina Feitoza, Danielle Garcia, Waneska Barboza e Yandra Moura aparecem em destaque nas pesquisas divulgadas recentemente. “O processo eleitoral pode ser histórico quanto maior for a capacidade dessas mulheres vencerem os obstáculos internos em seus partidos e  agrupamentos, uma premissa básica para a viabilização de quaisquer candidaturas femininas. Se essas mulheres conseguirem romper essas barreiras que começam ainda dentro dos seus próprios agrupamentos e partidos políticos, temos chances reais de termos uma prefeita na capital a partir de 2025”, destaca a pesquisadora.

Cultura Política Patriarcal

O protagonismo feminino nas pesquisas é considerado por Eloísa como um avanço considerável, mas a pesquisadora de gênero e política chama a atenção para uma estrutura em que a figura masculina ainda insiste em ser peça central nos processos de definição.

“Ainda temos um ambiente tipicamente masculino e machista, estabelecendo desde sempre uma rota de ingresso na qual as mulheres  precisam passar por crivos daqueles que dominam o ambiente. Não por coincidência, apenas recentemente tivemos um aumento da participação de mulheres na política desprovidas desse apadrinhamento. E o que esse apadrinhamento quer dizer? Ele reflete a forma como o nosso sistema político está organizado, a partir da ótica e dos interesses masculinos, sem desconsiderar que aqui também se insere os marcadores racial e econômico, porque geralmente as mulheres apadrinhadas são brancas e economicamente ligadas a segmentos dominantes em seus territórios”, observa Eloísa.

Eloísa reconhece a evolução desse cenário, indicando que a dependência do apadrinhamento está em processo de mudança, à medida que mais mulheres começam a ocupar espaços sem esse vínculo.

“Eu encaro como algo processual, como fenômeno sociológico. Estamos num momento em que há amplo debate público sobre gênero e sobre o papel da mulher na sociedade. Então, precisar do apadrinhamento é parte dessa inserção inicial, mas vem mudando e outras mulheres começam a ocupar esse espaço. Mas é preciso dizer que essa participação pode e deve trazer ganhos também para as causas femininas de maneira geral, não estamos aqui para defender que somente algumas mulheres devam participar da vida política, muito pelo contrário”, reforça a comunicóloga.

Embora reconheça que ainda há uma estrutura machista que se apropria dessa movimentação social para continuar exercendo poder, a pesquisadora garante que as mulheres têm sido estratégicas e vêm alcançando cada vez mais espaços como resposta a lutas importantes e coletivas femininas. “Quero reafirmar que a ocupação dos espaços é fruto da luta das mulheres, de diferentes mulheres. No caso do Brasil, conhecer histórias como a do “lobby do batom” das 26 parlamentares que atuaram na Assembleia Nacional Constituinte de 1988 ajuda muito a entender como chegamos até aqui com mais direitos para as mulheres. Foi sempre elas que puxaram para si os avanços para sua própria condição como cidadãs. Os espaços não são cedidos, são conquistados. Mas essas conquistas, sim, estão sempre em disputa, por isso mesmo é cada vez mais importante termos mulheres que as defendam e trabalhem por sua ampliação, jamais pelo retrocesso delas”, reforça Eloísa Galdino.