Covid-19: por que Cingapura é o melhor país para se viver durante a pandemia

Covid-19: por que Cingapura é o melhor país para se viver durante a pandemia

12/05/2021 0 Por Redação

Enquanto vários países assistem a uma terrível escalada de casos de covid-19, uma pequena ilha asiática se tornou o melhor lugar para enfrentar a pandemia global. Na semana passada, Cingapura liderou o ranking da agência Bloomberg de resiliência para a covid, à frente da Nova Zelândia, que dominou a lista por meses.

O ranking considera fatores que variam de números de casos a liberdade de movimento das pessoas. O Brasil aparece desde o início de abril como o pior lugar para se estar na pandemia entre os 53 países avaliados. A Bloomberg citou o programa de vacinação eficiente de Cingapura, em comparação com o lento programa da Nova Zelândia, como a principal razão para a mudança da primeira posição.

Desde o início da pandemia, Cingapura teve um total de 61,4 mil casos de infecção por coronavírus (menos do que a taxa de infecção diária recente no Brasil) e um total de 31 mortes por covid, a última delas registrada no dia 1º de maio. Então, como é viver no melhor lugar do mundo durante esses tempos incertos? A repóter da BBC Tessa Wong, moradora de Cingapura,

 

Uma vida quase normal e uma dissonância profunda

Em grande parte, é tudo verdade. A vida em Cingapura pode ser muito boa, embora eu diga isso com algumas ressalvas importantes. Nos últimos meses, além de pequenos surtos que foram rapidamente sufocados, quase não houve infecções comunitárias diárias — embora nesta semana vários novos casos tenham surgido e algumas restrições tenham voltado. Regras estritas de viagem e segurança de fronteira significam que os casos importados raramente se espalham, com os passageiros que chegam sendo imediatamente isolados.

Além do confinamento de dois meses no início do ano passado, quando a pandemia começou, nunca mais tivemos que nos trancar. A vida é quase normal: posso ver minha família a qualquer hora ou encontrar amigos para jantar em um restaurante, embora não possamos formar grupos maiores do que oito pessoas. As máscaras são obrigatórias em todos os lugares, mesmo ao ar livre, embora você possa removê-las enquanto faz exercícios ou se alimenta.

Muitos de nós voltamos a trabalhar em escritórios com distanciamento social, e você pode assistir a um filme no cinema, assistir a um show ou fazer compras, desde que use máscara e se inscreva em um aplicativo de rastreamento de contatos.

Escolas e creches estão abertas, e nos fins de semana posso levar meus filhos a qualquer lugar, embora muitos locais operem com capacidade reduzida, para garantir o distanciamento social. Então planejar qualquer atividade é muito parecido com a preparação de um exercício militar (nesse caso, eu sou a infeliz soldado e meus filhos são os generais).

Aproximadamente 15% da nossa população foi totalmente vacinada desde o início do ano. Essa estatística se deve em parte a uma pequena população (somos apenas cerca de 6 milhões de pessoas), mas também à implementação bem feita do programa, grande confiança no governo e muito pouca desconfiança sobre a imunização.

Portanto, estamos seguros e estamos indo bem: o uso obrigatório de máscara, rastreamento agressivo de contatos e longas restrições de viagens e grandes reuniões ajudaram, assim como o fato de sermos uma ilha com fronteiras facilmente controladas, grandes reservas financeiras e um sistema implacavelmente eficiente.

Mas, ao mesmo tempo, há discordâncias profundas na ideia de que somos o melhor lugar do mundo para se viver agora. Muitos em Cingapura desfrutam de liberdade de movimento, mas não é o caso das centenas de milhares de trabalhadores migrantes que, em sua maioria, ainda estão confinados em seus locais de trabalho e dormitórios, após os surtos massivos do ano passado devido às condições de vida precárias e insalubres.

Eles têm que pedir permissão aos seus empregadores se quiserem sair de seus quartos e, acima de tudo, socializar em centros recreativos aprovados pelo governo. O governo argumenta que tudo isso é necessário para proteger o resto do país, pois existe um risco “real e significativo” de outro surto.

Isso não é falso, visto que muitos trabalhadores vivem em lugares mais lotados do que a maioria dos cingapurianos, mesmo após esforços para melhorar suas acomodações. Mas também destaca o duro fato de que, apesar de todas as suas discussões sobre igualdade, Cingapura continua sendo uma sociedade profundamente segregada.

Isso é “vergonhoso e discriminatório”, diz o ativista pelos direitos dos migrantes Jolovan Wham. “Como os trabalhadores migrantes não têm poder político, de alguma forma se torna socialmente aceitável que eles suportem o peso de nossos fracassos políticos”, diz ele. “A Nova Zelândia também está no topo da lista de resiliência da Covid, mas não abusou dos direitos das pessoas. Não se trata apenas do resultado, mas dos meios para se chegar lá.”

 

Informações da BBC Brasil