Horta coletiva contribui para o ensino nas escolas e fortalecimento de quilombolas em Sergipe

Horta coletiva contribui para o ensino nas escolas e fortalecimento de quilombolas em Sergipe

26/09/2023 0 Por Redação

Os estudantes da escola primária Antônio Cardoso Dantas, em General Maynard, e os moradores da comunidade quilombola do povoado Pirangi, em Capela, receberam nessa quarta-feira, 20, a visita de técnicos da Emdagro (Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe), que acompanham o desenvolvimento das ações do ‘Cultivando Hortas: Alimento Seguro na Mesa’, programa do Governo do Estado, que tem como um dos objetivos fomentar as práticas sustentáveis de agricultura. De acordo com o órgão, atualmente oito instituições executam o ‘Cultivando Hortas’ em Sergipe, com potencial de chegar a 32 até o final do ano.

Entre uma colheita e outra nessa quarta-feira, os alunos do Antônio Cardoso aprendiam contagem numérica na aula de Matemática. O trabalho pedagógico daquela manhã foi acompanhado de perto pela diretora Roberta Maciel, que durante a aula ao ar livre explicou que os estudantes reconhecem na horta o que têm em suas casas. “Muitas dessas crianças são de famílias do campo. O aprendizado se torna fluido, porque explora o que elas já conhecem”, disse.

“O programa foi criado este ano e tem o objetivo de garantir a produção e consumo de alimentos mais saudáveis. Aproveitamos os espaços das escolas, dos centros de convivência dos idosos e centros de recuperação de jovens e adolescentes, enfim. Ele é executado não só no no meio rural, mas também na cidade. Existem alguns critérios para participar, como por exemplo, se for escola, ter um projeto pedagógico para nortear nosso trabalho, porque a horta serve também como espaço de ensino e aprendizagem. Todas as disciplinas podem ter relação com a horta. Temos um cronograma de execução e avaliação do processo. Visitamos a área, vemos se é possível usar o terreno, se ele é encharcado, enfim. Tem todo um preparo”, expôs Abeaci dos Santos, gestora do Programa de Organização e Desenvolvimento Social da Emdagro.

Quilombolas

Os moradores da Associação Agrícola Pirangi, formada por remanescentes de quilombolas, apresentaram parte do trabalho que desenvolvem junto com o Governo do Estado, numa área de 74 hectares. Denise Félix é a presidente da Associação e explicou que a agricultura familiar do local tem contado com o auxílio técnico doação de sementes da Emdagro. “Plantamos todos os tipos de hortaliças. Na verdade plantamos tudo que abrange a agricultura familiar. Vendemos a produção nas feiras livres do Estado e também na feira orgânica de Aracaju. Começamos este ano o trabalho das hortas com a Emdagro, mas já temos essa parceria com os técnicos há muito tempo, de outros projetos”, revelou.

No Pirangi, cada família tem direito a uma área da propriedade. Silvânia Gonzaga, tesoureira da Associação, detalhou que a média de faturamento de sua família com a comercialização dos produtos da horta é de R$ 400,00 por semana. “Retiramos dessa conta as despesas com semente, adubo e insumo. O que sobra é dividido entre nós. A dinâmica é essa, cada família é responsável por uma parte do terreno. Porque, apesar de a área da Associação ser coletiva, ela é usada individualmente por cada família. Com a doação das sementes da Emdagro os custos são reduzidos em 30%, o que auxiliou muito no bom lucro deste ano”, contabilizou.

Segundo a presidente da comunidade, o município de Capela conta atualmente com 98 famílias remanescentes quilombolas cadastradas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e somente dentro da Pirangi estão 42 residências. Além da assistência técnica, os membros da comunidade recebem também acompanhamento social. “Desempenhamos esse papel de garantir o acesso às políticas públicas. Fazemos a visita semanal junto com os técnicos da Emdagro para acompanhar as atividades, tanto do programa ‘Cultivando Hortas’, quanto das crianças, já que temos uma escola aqui dentro da Associação”, informou Cíntia Cristina, assistente social da Emdagro.

Segundo o Observatório de Sergipe (Superplan), vinculado à Secretaria da Casa Civil, o Censo Demográfico 2022 contabilizou 28.124 pessoas quilombolas em Sergipe (1,27% do total da população residente), posicionando o Estado em 9ª lugar entre as unidades federativas. A participação da população quilombola de Sergipe representa 2,12% do Brasil e 3,11% do Nordeste. São 21 territórios quilombolas oficialmente delimitados e os municípios de Santa Luzia do Itanhy (4.647), Laranjeiras (3.316), Brejo Grande (2.013) e Estância (1.489) possuem os maiores números de pessoas quilombolas residentes em Sergipe.

O programa

O ‘Cultivando Hortas: Alimento Seguro na Mesa’ é um programa da Emdagro, criado este ano, que busca estimular o desenvolvimento de novos hábitos alimentares, requalificar ambientes e áreas desprezadas ou ociosas, impulsionar a educação ambiental nas escolas, comunidades e instituições, resgatar e valorizar os saberes populares e oferecer capacitações para gestão agroecológica.

As modalidades dentro do programa são: hortas escolares, hortas institucionais e hortas comunitárias, que podem ser desenvolvidas em solo, estruturas suspensas, canteiros elevados, pneus, hidroponia e outros, desde que garantam acessibilidade. Cada instituição deverá indicar qual a finalidade desejada para a estruturação ser preparada.

As hortas são instaladas em ambientes escolares, instituições que prestam assistência social, comunidades rurais e acompanhadas pelos técnicos da Emdagro, que formam parceria com as Secretarias de Educação, Agricultura e Meio Ambiente de cada município interessado. Os requisitos para aderir ao programa são: preencher formulário, possuir plano pedagógico ou de gestão, dispor de técnico agrícola e um representante da horta para acompanhamento.

A estruturação das hortas é feita de acordo com a realidade de cada unidade produtiva e potencialidades identificadas. De acordo com a gestora do Programa de Organização e Desenvolvimento Social da Emdagro, Abeaci dos Santos, as principais ações de apoio são a distribuição de sementes e insumos, suporte logístico, assistência técnica continuada e capacitação nas áreas de agroecologia e segurança alimentar.